segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Conheça Edson Nery da Fonseca, considerado por muitos o mais renomado autor da Biblioteconomia nacional.



Edson Nery é visto por alguns como papa da biblioteconomia no Brasil, entre outros motivos por ter ajudado a montar dois cursos universitários da especialidade – no Recife e em Brasília –, por ser autor de livros essenciais na formação acadêmica dos bibliotecários, por ser um defensor da modernização das bibliotecas e por nunca ter poupado bibliotecas e colegas de profissão de comentários amargos.
Edson Nery cresceu no Recife, na rua do Progresso, filho de um representante comercial e de uma dona de casa, pais de sete filhos – Ida, Edson, Amelinha, Jorge, José, Lúcia e Paulo. Apenas as duas irmãs mais novas estão vivas. Com 90 anos completados em 6 de dezembro, Nery não consegue mais sustentar seu corpanzil de 1,89 metro sem apoio. São dois enfermeiros que se revezam de segunda a sexta-feira, um terceiro que o ajuda no fim de semana e uma cozinheira trabalhando na casa dele. 
Quando jovem foi convocado a servir no 14º Regimento de Infantaria em 1943, quando o Brasil começava a organizar a Força Expedicionária Brasileira que iria ao combate na Segunda Guerra. Quando deixou o Exército, havia desistido do monastério e foi para o Rio de Janeiro estudar na Biblioteca Nacional, no primeiro curso superior de biblioteconomia no Brasil. 
Ele começou a alinhavar sua história com a da biblioteconomia moderna no Brasil em 1948, quando voltou a Pernambuco e reformou a biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade do Recife. Sua primeira atitude ao chegar foi pedir ao diretor que mandasse embora todos os funcionários que não tinham dado certo em outros setores e estavam encostados ali. “Pedi para realocarem um lá que passava o dia tomando sol no jardim. Depois ele voltou um dia e me disse, armado e bêbado: ‘Vim aqui para tirar sua vida.’ Fiquei apavorado, mas consegui fugir. Fui ao diretor da faculdade dizer: ‘Olha, vocês demitiram o homem e agora estou sendo ameaçado de morte.’ O diretor me disse: ‘Ah, Edson, me desculpe, ele realmente tinha cara de assassino’”, diverte-se.
Ao deixar a universidade, Nery peregrinou por vários empregos. Inspecionou as bibliotecas públicas de Alagoas pelo Instituto Nacional do Livro, foi aos Estados Unidos trabalhar na biblioteca da União Pan-Americana, passou pela biblioteca pública de João Pessoa, mas voltou ao Rio de Janeiro quando percebeu que não conseguiria mudar “o ar bolorento dos livros e do diretor”. Achou um rumo quando, em 1956, passou em segundo lugar no concurso público para a Biblioteca da Câmara dos Deputados, ainda na antiga capital federal.
Como tinha servido ao Exército durante a Segunda Guerra e trabalhado em Brasília nos primeiros anos da cidade, antigos cálculos da Previdência permitiram a Nery se aposentar em 1964, aos 43 anos. Passou a trabalhar o dia todo na Universidade de Brasília, a UnB, onde já dava meio expediente havia dois anos. Hoje recebe aposentadoria de 25 mil reais da Câmara.
Alvos de crítica de Nery são os bibliotecários que impedem a modernização de bibliotecas achando que a informatização acabará com o valor do livro. Ele cita o poeta francês Stéphane Mallarmé – “Tudo o que no mundo existe começa e acaba em livro” – para dizer que, por consequência, tudo começa e termina em biblioteca. Também tem um posicionamento muito polêmico com relação aos políticos, poucos o agradam, certa vez falou sobre o Lula “Dizem que o Lula uma vez sofreu um atentado. Sabe como? Jogaram um livro no carro dele.” (HÁ!Ha!Haaaa!), também noutra ocasião afirmou que pode ser que a presidente Dilma Rousseff use a biblioteca: “Se bem que não sei, porque ela é mais técnica do que culta.”. Este espírito provocador e a qualidade literária inquestionável de sua escrita fazem de Edson Nery não apenas um bom autor no campo da biblioteconomia mas sim uma verdadeira sumidade.

(Texto editado do artigo: O memorialista – amizade e os livros de Edson Nery da Fonseca. – de Carol Pires. Disponível em: http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-72/figuras-das-letras/o-memorialista)

Postado por: Edmar Soares

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